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Nossa História... De um jeito ainda não contado!

São Paulo, 02 de Abril de 2022.

Texto por Fernanda Conde.


Lá em meados de 2014 a gente começa com a iniciativa de Carlos Araújo e Fernanda Conde em querer desenvolver um espetáculo de dança de salão. Bom, antes de falar sobre isso, é importante citar que Carlos e Fê se conheceram na Etec de Artes, quando ainda estudavam o curso técnico em dança, e lá puderam, através da educação, começar a compreender a dança de salão por um viés menos engessado.


Nessa época ambos não se sentiam completamente contemplados pelas práticas e condutas do salão até então. Fê por ser mulher, periférica, e sentir que não tinha voz numa dança que privilegia os homens e objetifica corpos femininos; e Carlos por ser negro, gay, também periférico e por sempre se sentir excluído e não contemplado numa dança que privilegia corpos brancos e de padrões cisheteronormativos. Além de todas as questões singulares dos lugares que Carlos e Fê ocupavam dentro das danças de salão, existiam as questões que uniam os dois, por exemplo, a vontade de ter mais liberdade em explorar as danças a dois no palco, foi neste momento que decidiram escrever um projeto para o VAI de 2015 e produzir o primeiro espetáculo da Dois Rumos: o Relações Adversas. Foi uma alegria só ver o projeto na lista dos contemplados, este momento foi um marco para a existência e início da nossa jornada, pois, muito provavelmente, sem esse estímulo não estaríamos aqui hoje. Além de Carlos e Fê, o Relações Adversas também contou com Ricardo Januário e Mia Assumpção (Janu estudava com Carlos no Núcleo Luz e Mia com Fê na Etec de Artes) na sua criação e desenvolvimento.


Foto: Primeiro ensaio fotográfico da Dois Rumos para o Relações Adversas (2015)


Circulamos com o espetáculo e aprendemos muito com ele, pudemos desenvolver nosso potencial artístico e começar a mudar o cenário que nos cercava. Em 2016 fomos contemplados novamente com o projeto Relações Adversas, o que foi uma outra grande felicidade, porque desta vez começamos a ampliar nossos horizontes para ganhar cada vez mais espaço de atuação artística. Porém, em 2016, o elenco sofreu uma transformação, Janu precisou sair do coletivo, mas em compensação recebeu mais 3 novos integrantes: Andressa Malerba, Vinicius Borges e Roberto Lira.


Foto: Final da apresentação do Relações Adversas no Centro de Culturas Negras - 2016.


Essa temporada de circulação do Relações Adversas foi crucial para o firmamento do coletivo, espalhamos nosso trabalho pela cidade e estimulamos o pensamento crítico do público, pois, além das apresentações, ainda conseguimos realizar uma residência artística no qual os participantes puderam interpretar o espetáculo da companhia com seus próprios corpos, resultando numa apresentação única e extremamente desafiadora para a Dois Rumos.


Fotos: Alunos da residência artística na apresentação da releitura do Relações Adversas - Teatro Flávio Império (2017).


Foi durante a temporada de 2016 que conhecemos mais 4 integrantes da companhia: Kelly Poli, Denize Angélica, Tony Rubinho e Camila Aguiar. Todas essas pessoas, em algum momento, participaram das ações do projeto, seja na produção ou mesmo nas oficinas de dança, o que possibilitou uma aproximação e identificação com o perfil do coletivo, então daí veio o convite para integrarem o grupo. Provavelmente sem o VAI de 2016, nossa configuração atual do coletivo seria bem diferente ou quiçá o coletivo nem tivesse resistido.


Porém, em 2017, não conseguimos nenhum subsídio para sustentar nossos projetos, mas já estávamos tão nutridos com toda troca dos anos anteriores, que foi impensável a possibilidade de brecar com nossos sonhos. Sabíamos que a dança de salão não se fazia apenas nos palcos, mas no cotidiano, mais precisamente nos bailes, no entanto um baile tradicional (elitizado, cheio de normas ultrapassadas, com condutas machistas e lgbtqia+fóbicas) já não nos representava mais. Então, eis que surge o Baile Contemporâneo de Dança de Salão: um lugar de encontros e danças únicas, que se propõe a receber o diverso e abraçar outras possibilidades de dançar a dois, mais importante que isso, um lugar seguro para se existir, aberto ao diálogo e que entende o corpo como agente das transformações sociais que precisamos.


O começo foi difícil, era um novo conceito de baile, desconhecido e altamente transgressor, por isso resolvemos ser itinerantes e levamos o baile, a cada mês, a um lugar diferente da cidade. Já são 5 anos de existência do Baile Contemporâneo, lugar que nos possibilita muitas trocas, nos aproxima do público e contribui para o crescimento da cia também na área de produção cultural, que trouxe e traz algum sustento em períodos que não temos aporte financeiro do setor público. Ah, um grande orgulho foi ter o baile selecionado para compor a programação da Bienal Sesc de Dança em 2019, mostrando a nós mesmos que é notória e essencial a existência da Dois Rumos. Foi durante a circulação dos bailes que conhecemos também Diogo Silva, Fernanda Monte e Amanda Mota, que transitaram de público frequentador a intérpretes da cia. Massa, não?


Vídeo: Clipe do Baile na Bienal Sesc de Dança - 2019.


Em 2018 a Dois Rumos voltou a ser contemplada com o incentivo do Programa VAI, desta vez com o projeto Elas por Elas, no qual a proposta foi estimular a pesquisa corporal e o pensamento político/social de mulheres que atuam ou não nas danças de salão, através de oficinas, palestras, debates e um baile, que levantou questões como a desconstrução do gênero, sexualidade, história da dança, atuação profissional da mulher e empoderamento feminino dentro e fora do salão. A gente cresceu demais durante a execução do Elas por Elas, pois pudemos, neste momento, organizar e consolidar nossas práticas pedagógicas também, o que nos fez perceber que as estruturas, o lugar de ensino das danças a dois, precisa ser repensado urgentemente.

O Elas por Elas nos presenteou com mais duas integrantes, Vitória Alves e Iris Rana, ambas com narrativas outras que nos despertam constantemente para questões antes não pensadas, como, por exemplo, qual o lugar da mulher-mãe na dança e a importância da racialização dos corpos, dentre tantas outras questões.


Vídeo: Clipe de fotos do Projeto Elas por Elas - Etec de Artes - 2018.


De fato, todo apoio do Programa VAI durante a nossa jornada foi extremamente essencial, nossas bases foram construídas a partir de ações fomentadas pelo VAI, sem as quais seria muito difícil prever o destino da Dois Rumos. Estávamos, desde 2019, sem apoio público para prosseguir com nossos processos criativos, mesmo na tentativa de avançar sozinhos, existem barreiras que nos paralisam, ter o acesso a essas leis de incentivo é extremamente importante para que a existência de coletivos como o nosso perpetue.


Para a nossa felicidade, em 2021, fomos contemplados com o Danças de Bolso e agora, com o apoio do VAI, mais uma vez, vamos riscar novas rotas para a Dois Rumos e você é nossa convidada especial! Vai ter videodança, oficinas e podcast durante 2022 todinho! Inclusive, já dá para ouvir o primeiro episódio do podcast, bora lá conferir?



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Beijos e até o próximo capítulo dessa história!



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